O Ceará está prestes a dar um passo significativo na consolidação de sua liderança na produção de hidrogênio verde (H₂V). O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) e a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) estão articulando uma expansão emergencial da rede de transmissão de energia no Nordeste, visando permitir decisões de investimento em projetos de H₂V a partir de 2026.
Atualmente, a infraestrutura de transmissão na região não comporta a demanda dos projetos de H₂V, que exigem grande volume de energia elétrica. O Complexo Industrial e Portuário do Pecém, no Ceará, concentra iniciativas que, juntas, somam mais de 5 gigawatts (GW) — potência superior ao consumo de dezenas de milhões de residências.
Em janeiro, o ONS negou pedidos de acesso à rede feitos por empresas como Fortescue, Voltalia, Qair, Solatio e Casa dos Ventos, devido à saturação das linhas existentes. No entanto, com a reconfiguração do sistema prevista para este ano, espera-se viabilizar entre 1 GW e 1,8 GW adicionais até 2026, o suficiente para permitir o início das obras e financiamentos.
A presidente da Associação Brasileira da Indústria do Hidrogênio Verde (ABIHV), Fernanda Delgado, afirmou que o setor trabalha com o governo para garantir ao menos 5,8 GW de capacidade de escoamento no curto e médio prazo: 1,8 GW via ONS e 4 GW que dependem de novos estudos da EPE.
Entretanto, o cronograma preocupa. Mesmo que a EPE antecipe os resultados dos estudos para agosto — como deseja o setor —, as obras só devem ser entregues em 2031, o que pode atrasar a produção de H₂V em larga escala. Governadores de estados como Ceará, Piauí, Pernambuco e Rio Grande do Norte disputam espaço nas prioridades da expansão da rede.
Entre os projetos com decisão final de investimento prevista para 2026, destacam-se os das empresas Fortescue, Voltalia, Qair, Casa dos Ventos e FRV, todas com atuação no Ceará. O Estado, portanto, depende diretamente da expansão da infraestrutura de transmissão para se consolidar como protagonista da transição energética no país.

